Em cerca de 3 minutos os funcionários do terminal de cargas do aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, viram na tarde desta quinta-feira (25), um grupo de assaltantes levar cerca de 750kg de ouro. A carga, estimada em mais de R$ 120 milhões, seria embarcada em aviões para outros países.
A ação, considerada cinematográfica, foi logo comparada nas redes sociais ao enredo da terceira temporada da série “Casa de Papel”, em que os assaltantes espanhóis tentam roubar ouro de um banco na Espanha. Outro caso, ocorrido em 2018, em Viracopos, também foi comparado com as duas primeiras temporadas da série.
Nos corredores do aeroporto de Guarulhos e nas ruas no entorno de onde os ladrões trocaram de veículos para a fuga, não havia uma pessoa que não sonhava: “podiam ter deixado cair uma barrinha desta de ouro por aqui”.
O roubo
Usando caminhonetes que imitavam carros da Polícia Federal, o grupo, que já tinha sequestrado a família e um funcionário do Terminal de Cargas do Aeroporto de Guarulhos, entrou por uma das guaritas sem dificuldades e rendeu outros funcionários, que ajudaram a identificar o contêiner com a valiosa carga.
Sob a mira de fuzis e pistolas, até um operador de uma das empilhadeiras ajudou a pegar o pallet em que o ouro estava e colocá-lo dentro de uma das caminhonetes.
Enquanto o grupo agia, dezenas de funcionários do terminal observavam a ação, incrédulos. Uma mulher chega a ficar imóvel diante da pressão do grupo para colocar a carga do metal precioso no veículo. Entre a entrada no terminal e a saída, o grupo levou menos de 3 minutos.
Após a fuga, a quadrilha entrou com os veículos em um depósito de material de construção na Vila Nair, zona leste de São Paulo, colocou a carga em outros veículos e fugiu.
Divergências
Há divergência sobre o total levado pelos assaltantes. A Polícia diz que foram 720 kg, já a GRU, empresa que administra o aeroporto de Guarulhos, que possuí informações sobre a documentação da carga, afirmou em nota que eram 750 kg em metais preciosos, inclusive ouro.
Além disso, não há informações precisas sobre quem é o dono e o destino desta carga. O aeroporto de Guarulhos diz que o ouro seguiria para Nova York, nos Estados Unidos, e para Zurique, na Suíça. Entretanto etiquetas de destinação, encontradas pela reportagem do R7 em uma das cenas do crime, apontam que o ouro seguiria para Dubai, na Arábia Saudita, e Nova York.
O ouro tinha sido descarregado instantes antes de um carro-forte que entregou carga que seguiria viagem para esses países.
Roubo planejado
Mas uma coisa é possível afirmar com precisão, a ação dos assaltantes foi cuidadosamente planejada, podendo até ser comparada ao mirabolante plano do “Professor”, na série da Netflix, como internautas têm feito nas redes socias.
Segundo os investigadores, os carros utilizados foram comprados em nomes de laranjas, receberam adesivos similares aos da Polícia Federal e contavam até mesmo com sirenes luminosas. Os veículos também não tinham nenhum registro de roubo ou furto.
O local para onde os assaltantes fugiram e trocaram de carros, o depósito de material de construção na Vila Nair, também foi cuidadosamente estudado. Fica a 12 km do Terminal de Cargas do Aeroporto de Guarulhos. O trajeto entre os dois pontos pode ser feito em 15 minutos, se o motorista respeitar o limite de velocidade das vias. Em alta velocidade, como os bandidos guiaram, segundo relato de moradores, o trajeto demora menos de 10 minutos.
O espaço é um depósito utilizado por uma loja do bairro para guardar materiais de construção, como areia e brita. Ainda de acordo com moradores, fica sempre aberto.
Uma pessoa, que preferiu não se identificar, chegou a afirmar para a reportagem que os veículos usados fuga, após o abandono dos carros similares aos da Polícia Federal, já teriam sido vistos no local ao menos outras três vezes nos últimos dias.
Além disso, para facilitar o acesso, os assaltantes sequestraram a família de um supervisor de cargas do aeroporto de Guarulhos, um dia antes do crime.
Segundo o R7 apurou, ainda na madrugada, o grupo rendeu o homem, de 28 anos, sua esposa, e seu filho pequeno, em sua casa em São Mateus, na zona leste de São Paulo.
O funcionário trabalha na GRU Airport há 9 anos e já foi, inclusive, representante dos colegas no Conselho de Administração da empresa que administra o aeroporto de Guarulhos.
Enquanto o roubo ocorria, já nesta quinta-feira, o grupo manteve a mulher e o filho do homem rendidos em uma ambulância que circulou por ruas da cidade.
O funcionário, por sua vez, acompanhou os assaltantes durante todo o roubo até ser libertado no local onde o grupo trocou de veículos e fugiu.
Ainda no fim da noite desta quinta-feira, outros três veículos que teriam sido usados pelos assaltantes, um deles um caminhão, foram apreendidos.
Investigação
Normalmente, roubos ocorridos nas dependências de uma zona aeroportuária são de responsabilidade da Polícia Federal, mas neste caso, o crime ocorreu em uma área do terminal de cargas, fora da área de responsabilidade federal.
Por conta disto, a Polícia Civil de São Paulo assumiu a investigação. Inicialmente o caso seria de responsabilidade da Deatur (Delegacia Especializada em Atendimento ao Turista).
Mas, por conta do porte da ação, a cúpula da Polícia Civil paulista decidiu que o caso devia ser investigado pelo Deic (Departamento Especializado de Investigações Criminais), com apoio da equipe especializada em roubo a bancos, pela experiência em lidar com quadrilhas que realizam ações de grande porte.
Horas após a ação, centenas de policiais iniciaram as buscas pelos assaltantes. Os carros clonados com a identidade visual da Polícia Federal foram periciados ainda no local onde foram abandonados.
Entretanto, munições, embalagens e etiquetas de identificação da carga roubada foram deixadas no local, e registradas pelo R7, depois que os peritos foram embora, levando os veículos utilizados na ação.
Horas após a ação, veículos com características similares aos apontados pela polícia chegaram a ser vistos na rodovia Presidente Dutra. No fim da noite, dois veículos e um caminhão, que também teriam sido utilizados na ação, foram apreendidos na zona leste de São Paulo, deixando dúvidas sobre como, de fato, foi feita a fuga dos assaltantes.
Até o fim da noite desta quinta-feira, policiais civis, militares, federais e equipes do aeroporto de Guarulhos, estiveram reunidas em uma sala de crise, cedida pela GRU Airport, para coordenar as buscas.
Até a publicação desta reportagem, ninguém havia sido preso e nem a carga, localizada.
Outro lado
A Brinks, empresa que transportou o ouro até o terminal de cargas, e a GRU Airport, que administra o aeroporto de Guarulhos, afirmam que estão colaborando com as investigações. A Receita Federal ainda não emitiu nenhum posicionamento sobre a origem e o proprietário da carga do metal precioso.
Por sua vez, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) convocou uma coletiva de imprensa para esta sexta-feira (26), na qual promete revelar mais detalhes sobre o assalto cinematográfico, que já chama atenção e mexe com a imaginação de muita gente.
Fonte: Portal R7