Laços políticos viram tabu após série de escândalos em MT

26 de dezembro de 2018 - 10:33 | Postado por:

Logo após iniciar o primeiro mandato como deputada estadual em Mato Grosso, em 2014, Janaina Riva (MDB) viu o pai ser preso. Conhecido como o “maior ficha suja do País”, José Riva (PSD) foi condenado nos anos seguintes por desvios de recurso público da Assembleia Legislativa, onde foi presidente.

As acusações contra o pai fizeram Janaina, eleita pela relação familiar, remodelar a imagem. José Riva sempre esteve na situação. Ela virou oposição ao governo Pedro Taques (PSDB) e passou o mandato denunciando suspeitas de irregularidades na gestão.

O discurso de independência virou seu mote nos últimos meses. “Eu usei dos erros do meu pai para trilhar um caminho diferente”, diz ela, em meio a reuniões com o governador eleito Mauro Mendes (DEM), a quem deve se alinhar.

“É isso que as pessoas precisam se entender. Meu pai não só se aposentou como hoje eu sou a líder política do grupo.”

Com a classe política e empresarial devastada por operações policiais, desvincular o nome ou a conduta política de pessoas citadas em casos de corrupção virou prioridade para os candidatos que acabaram eleitos para o mandato que se inicia em 2019.

Janaina não foi exceção. O próprio governador eleito Mauro Mendes disputou sob a sombra de citações do ex-governador Silval Barbosa (ex-MDB, 2010-2014), preso em 2015.

O ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), chamou a colaboração de Silval de “delação monstruosa”.

Nela, o ex-governador afirma que intermediou repasses ao MDB em troca de apoio a Mauro na disputa pela prefeitura de Cuiabá em 2008 e também que Mauro solicitou repasses a Taques —hoje seu adversário— em 2014. Mendes diz que não intermediou ou solicitou repasses.

Também cita a compra de uma área de garimpo em sociedade com Mauro Mendes, por meio de uma empresa de seu irmão. Em troca, disse Silval, a firma que era dona do terreno receberia vantagens em contratos com o governo. “Se isso for verdade, que se investigue e se penalize. A minha parte eu tenho absoluta certeza que foi paga com recursos lícitos”, afirmou Mauro Mendes à Folha.

Ele também se elegeu com um discurso de ser parte de uma “reinvenção da política”, apesar do seu passado nela, como prefeito e candidato em 2008 e 2010.

“Saí com 80% de aprovação e não fui para a reeleição. Isso é uma demonstração de que eu olho para a política de forma diferente, não só no discurso, mas na prática”, afirmou Mendes após afirmar que não é um “velho ator da política”.

Questionado se não tentará se reeleger dessa vez, no entanto, evita o assunto. “Não vou antecipar o futuro.”

Apesar de estar desfiliado ao MDB, que fez parte da coligação de Mauro, Silval chegou a fazer declarações favoráveis ao candidato à imprensa local durante as eleições: disse que não foi sócio de Mendes e que Taques, que disputava a reeleição, devia fazer o mesmo que ele e “colaborar com a Justiça”.

A senadora eleita Selma Arruda (PSL), ex-juíza estadual, também teve que se justificar por suas alianças, apesar da curta carreira na política.

Conhecida como “a Sergio Moro de Mato Grosso”, ela foi responsável por sentenças que condenaram tanto Riva como Arruda antes de largar a magistratura. Se candidatou sob o mantra do combate à corrupção.

No entanto, apoiou Taques e o senador Nilson Leitão (PSDB) para a segunda vaga no estado. Em meio à campanha, a Folha revelou que o Supremo Tribunal Federal homologou delações que os citavam. Decidiu, então, desfazer o apoio. Taques nega ter cometido irregularidades.

Antes, ela mesma, como juíza, havia rejeitado a homologação dessas delações. “Pra mim não foi apresentada nenhuma prova que me convencesse como estou convencida agora”, disse a jornalistas, ao anunciar o rompimento.

“A Folha de S.Paulo fala em documentos que acompanham a delação premiada (…) e eu fico desconfortável perto de pessoas que estão envolvidas nisso”, afirmou. “Eu não consigo pedir voto para uma pessoa que está acusada de estar envolvida nisso tudo.”

Atualmente, ela é alvo de uma investigação eleitoral sob suspeita de caixa dois de R$ 700 mil. Procurada, Selma não se manifestou.

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