Nesta quarta-feira (8), Cuiabá completa 301 anos de fundação. Nesse aniversário não terá festa por conta da pandemia de coronavírus, que obriga isolamento social e proíbe eventos com aglomeração de pessoas. No entanto, a data não será passada em branco. O fez um levantamento de importantes monumentos cuiabanos que remontam à história da cidade.
O escritor Anibal Alencastro explica um pouco desses marcos e, como bom cuiabano, lembra da Cuiabá de antigamente, quando o pão era deixado nas janelas das casas e as pessoas pagavam por mês. Quando o córrego da Prainha ainda era aberto e os meninos corriam atrás do ouro que surgia na água depois da chuva. Sem qualquer malícia, o metal precioso era trocado por doces nos bolichos e faziam felizes os comerciantes.
Antes de mencionar os monumentos da capital, o professor relata que o mais importante e antigo marco da capital é a Igreja do Rosário e São Benedito. Construída em 1723, o tempo religioso tem 297 anos e foi erguida sobre uma mina de ouro. Além de marcar o local onde Cuiabá começou, a igreja também encobre uma lenda muito famosa na cidade.
Segundo o historiador, a lenda da “alavanca de ouro” narra que escravos escavavam o local em busca de ouro, quando encontraram uma pepita muito grande. Para não quebrá-la, os negros passaram a cavoucar em torno da pedra, até que tudo desmoronou e eles morreram. No local foi erguida uma pequena capela que se tornou a Igreja atual.
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Erguida por escravos, até hoje há outro sob seu alicerce. “Na década de 50, 60, quando chovia aparecia ouro nas águas do córrego da Prainha. Eu e os meninos íamos procurar. A gente juntava num vidro e comprava doces”, lembra o historiador.
Nessa época, a iluminação era pouca e os vizinhos se reuniam em frente da uma das casas para conversar. “Ficava até umas 22 horas conversando”, lembra.
Alencastro lembra da infância em que o padeiro entregava o pão cedo e deixava na janela. O pagamento era por mês. Assim como os verdureiros que vendiam os vegetais de porta em porta. “Minha mãe mandava eu ficar na porta esperando o verdureiro, para chamar ele quando o visse”, conta.
“Era tão boa nossa Cuiabá que não tinha problema”, recorda.
Para lembrar um pouco dessa história, o separou alguns monumentos que homenageiam Cuiabá e suas personalidades. Confira:
Bandeirantes: Situado na avenida Coronel Escolástico, no bairro Bandeirantes, a estátua celebra três personagens que contribuíram para a fundação da cidade e de sua história. No monumento, o bandeirante, homem branco desbravador, está ao centro. Nas alterais ficam o negro, força de trabalho para efetiva exploração da área e o índio nativo.
A estátua foi colocada no local quando Cuiabá fez 250 anos, em 1969.
Chafariz do Mundéo: Localizado na praça Bispo Dom José, o monumento foi restaurado, juntamente com a praça, e reinaugurado em setembro de 2019. O tom azul deu espaço a cor laranja e os sinais de vandalismo encobertos pela tinta. Antigamente, o local servia como ponto de abastecimento de água para a comunidade cuiabana, em 1870. O chafariz foi tombado como patrimônio histórico em 1980.
Em 1996 a praça foi desativada para dar espaço a um terminal de integração do transporte coletivo. O ponto funcionou até 2005, quando foi desativado e a praça era ponto apenas para os ambulantes que vendiam comida. Em 2019, foi construído um novo terminal com uso de contêineres.
Maria Taquara: lavadeira negra, Maria viveu em Cuiabá, por volta de 1940 e era considerada “ à frente de seu tempo”. Informações dão conta de que foi uma das primeiras mulheres a vestir calças, traje considerado inapropriado.
Além disso, ela frequentava bares e era vista com soldados. O que a conferiu fama de prostituta. Em 1989 sua estátua feita pelo artista plástico Haroldo Tenuta foi colocada na praça, no entroncamento entre a avenida Tenente Coronel Duarte e rua Clóvis Huguenei.
Memorial Ulisses Guimarães: Inaugurada em 1993, o monumento foi erguido na gestão do prefeito Dante de Oliveira e representa o avanço para o futuro. O obelisco inclinado para o Norte, com um pássaro na ponta, é uma homenagem ao deputado Ulysses Guimarães, morto em acidente aéreo em 1992. Ele foi um dos principais opositores á ditadura militar e defensor do voto popular, assim como Dante, autor da emenda Proposta de Emenda à Constituição que previa a realização de Eleições Diretas no Brasil e que ficou conhecida pelo nome do então deputado Dante de Oliveira.
Índio Pescador: Situada na Avenida Fernando Correa da Costa, a estátua de um índio em uma canoa, segurando vários peixes é uma homenagem aos índios da tribo coxiponês, da etnia Bororo que habitavam a região quando os bandeirantes chegaram em busca de ouro. Os indígenas navegavam pelos rio Coxipó e foi atribuída a eles a origem do nome da cidade.
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